quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O sonho era mais ou menos assim, doutor.

POR QUE NUNCA PRESTAMOS ATENÇÃO AO PRIMEIRO PARÁGRAFO?!

(...)
"O Sonho era mais ou menos assim, doutor":

Acordei sobressaltado como sempre: Já era tarde, estava atrasado e com certeza teria mais um dia de cão...
Blasfemei "Bom Dia" para todos no caminho, interpretando o sujeito gente boa que eu nunca fui, enquanto pensava em quem teria de matar para justificar meu atraso.
Ao chegar em sala de aula, os alunos e alunas estavam me esperando receptivos como sempre: Cadeiras em semi-círculo, olhos ansiosos por conhecimento, cadernos prontos a serem preenchidos com as mentiras - Sim, mentiras: Se a verdade está lá fora; o que ensinamos dentro das universidades é o quê? - que contarei no decorrer daquela embromação ao qual davam o nome de "aula".
Em suma: Tudo normal, como sempre foi.
Até que no meio de minha explicação sobre "Aspectos da Administração Contemporânea em meio aos cenários atuais de hecatômbicas explosões claudicantes de novos paradigmas intrínsecos no cenário Globalizado" (um nome bonito pra "ATUALIDADES"), um aluno levanta a mão.
Aparentemente normal e banal, esse simples fato de um aluno levantando a mão em MINHA AULA, já deixou-me deveras estarrecido. NUNCA nenhum aluno ousou sequer levantar a cabeça para mim, antes. Quiçá, levantar a mão.
DIA DE CÃO, eu sabia!!!
Mas, pronto pra dar uma lição no fedelho, eis que miro nos olhos do triste-ser-comumente-chamado-aluno e tomo um susto: O que EU estava a fazer alí, sentado na cadeira e de mão levantada, enquanto EU estava de pé olhando pra mim?!
O aluno-eu pergunta para o professor-eu:
- Se tudo o que o senhor ensina é verdade, por que devemos perder tempo em pensar? Não bastaria tão-somente aceitar candidamente tudo como verdade?!
Ainda intigado com o encontro de realidades alternativas, usei da retórica para responder:
- Se toda a verdade é aprendida, por que não aprender a conquistá-la?!
Antes que eu me desse conta, vi que eu estava no lugar do aluno e ele estava no meu lugar. Eu estava sentado, de mão levantada, escutando a explicação da pergunta que eu deveria estar respondendo...
Mas não. Como se fosse algo normal, eu estava ali, satisfeito com as farsescas explicações que eu me dava. Como sempre, minhas farsescas explicações continuavam convicentes até pra mim ...

Por isso estou aqui, doutor:
-Por que eu continuo a ser o aluno? O sonho não terminou?! Quantas vezes mais terei de acordar em meio à realidades que são somente sonhos, para que eu volte a ser quem eu nunca fui em uma realidade que eu nunca viví? Doutor, não me dope de novo, por favor!!!! Por favor, doutor não me dope de nov...

O sonho era mais ou menos assim, doutor.




João Bosco De Oliveira.

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