quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Auto-psicografia

Sem se dar conta, sem se dar crédito, sem respirar, sem dor nem remédio, sem medo nem tédio, vislumbrava mais um alvorecer-atípico-medonhamente-repetido...
Pensava dia e noite, sem descanso neural. Sem descanso nem ranço, nem rancor (Como lhe era natural).
A carteira de Derby Azul Mar camuflada no Carlton Red ("Pra não amassar", dizia ele, enganando-se) estava no fim, como suas forças.
Suas fraquezas ascendiam na razão direta à velocidade com que as sinapses aconteciam, gerando hecatômbicas conclusões de alucinações irreais de realidades imaginadas. Ou seriam "Reais alucinações de irrealidades vivenciadas"?
DOR! No peito sem alma em ânsia assoberbada.
DOR! No jeito sem calma em esperança despedaçada.
Os pardais, ratos de asas que nada fazem senão sacanear outros pássaros e cagar em nossas cabeças, anunciam o dia.
MAIS UM DIA! SACO!!!
-Bem-Te-Vi o CARALHO, pôrra!!!
Pensa nos danos causados pelos anos em que pensou ser possível acreditar.
Pensa nos anos cansados dos danos por que acreditou ser possível pensar.
E pensa.
E pensa.
E chora, baixinho pra ninguem lhe ver.
E reza.
E dorme.
E se assusta quando nota que já estava sonhando com mais um alvorecer-atípico-medonhamente-repetido...
Taquicardias.
Suores frios.
Tremores.
Medo.
- Bem-Te-Vi o CARALHO, pôrra!!!
Acorda assustado com seu grito mudo, com seu sonho-maluco. Toma um banho, bebe um café, fuma um cigarro. Toma um banho, fuma um café, bebe um cigarro. Toma um jornal, fuma uma notícia, bebe a internet. Lê o Jornal. Vê as notícias on-line. Fumando e bebendo café (Sem perceber o que faz).
E chora baixinho, pra ninguém lhe ver.
Acorda de novo, do sonho anterior.
-Puta que o pariu! - Diz, sem perceber que o grito o faz acordar de novo.
E acorda.
E dorme.
E acorda de novo com novos gritos de "Puta que o pariu".
E dorme. Até que seu sobrinho de um ano e cinco meses o acorda realmente, gritando a plenos pulmões "Titiê!! Titiê!!" e dando-lhe um colossal (e certeiro) murro no saco.
-Put... Oi, amor. Bom dia! - Diz ele, enquanto beija o sobrinho.
Toma um banho, bebe um café, fuma um cigarro. Toma um banho, fuma um café, bebe um cigarro. Toma um jornal, fuma uma notícia, bebe a internet. Lê o Jornal. Vê as notícias on-line. Fumando e bebendo café (Sem perceber o que faz).
E agradece pela vida que tem, tentando acreditar no agradecimento. Tentando acreditar na vida. Tentando acreditar nele. Tentando acreditar em algo que não sabe se tem...
E resolve agradecer à incerteza, para ter a certeza de que é feliz.



João Bosco de Oliveira.

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