sábado, 14 de abril de 2007

Acerca da minha incapacidade em sentir dor no sentimento alheio (ou, ainda: Não sinto prazer nem dor, senão quando é comigo).

Muitas vezes, sinto-me na obrigação (ainda que momentânea) de ser solidário com sentimentos de outrem. Além de egoísta, tal atitude denota falta de preparo na convivência humana: Não podemos roubar tais momentos de nossos semelhantes! Isso é muita vigarice!
Senão, vejamos: Quando vamos bater um prego na parede e em vez de acertar o prego terminamos acertando nosso dedo, NINGUÉM mais sentirá aquela dor lancinante (por mais que apareçam muitas, ou algumas pessoas fazendo caretas escalafobéticas de solidariedade). Tampouco, ao concretizarmos em ações um sonho há muito aspirado, NINGUÉM sentirá aquele orgástico sentimento de "puta que pariu eu consegui, caralho!!" que antecede ao sentimento de "Pôrra! Agora eu vou fingir que acredito que eles torciam por mim!!!".
Mas... Como vivemos numa era de medos, incertezas e adivinhações elucubrativas cotidianamente desenhadas por economistas, macumbeiros e afins, eis que temos a obrigação moral de, ao menos, desdenhar dos cenários projetados (Pôrra, to fugindo do contexto... Esse é o assunto do próximo item). Peraê!
Seguinte (Sem mais delongas): Quando estamos em conluio amoroso, entre quatro paredes ou seja lá onde esteja-se a trepar, não conseguimos pensar em pôrra nenhuma naquele mágico momento em que não sabemos se estamos vivos ou mortos, ao qual chamamos "gozo". Não pensamos em nada, nem em ninguém. Só em nós. Ou nem nisso. Vivemos o momento. Vivemos aquele incrível momento em que somos os mais importantes seres da face da terra. Importantes e únicos!!!
Da mesma forma, quando esfacelamos acidentalmente nosso dedo entre a parede e o martelo, nenhuma caridade nos interessa. Nenhuma expressão de solidariedade é por nós levada a sério. Aliás, nada conseguimos enxergar, senão estrelas reluzentes e psicodélicas saindo dos espaços entre o sangue, os pedaços de carne (que agora são meros objetos decorativos da referida parede) e os ossos. Aquele breve ( é nessas horas que levamos a sério a Teoria da Relatividade de Einstein) momento é NOSSO. Nossa dor é única e exclusivamente nossa...
Embora isso soe tremendamente cruel, eis que assim é a vida: Nos momentos de extremo prazer e de extrema dor, estamos SOZINHOS! COMPLETAMENTE SOZINHOS...
O advir, o momento imediatamente posterior ao ato, quando recobramos a consciência, é a "hora-mágica". É quando nos damos conta que é feio não compartilhar nossos sentimentos com outrem. Então, como numa hecatombe nuclear que depois que todos morrem pede-se desculpas aos mortos, aceitamos resignadamente a co-participação em nossos sentimentos.
E tudo bem, até a próxima dor ou prazer...

João Bosco De Oliveira

2 comentários:

Anônimo disse...

Absurdamente intrigante e maravilhoso... além de COMPLETAMENTE VERDADEIRO...rs
Sei que muitos vêm dizer "você escreve muito bem.. posta no meu =)"... e sei que é um saco...
Eu apenas vim dizer...
VOCÊ REALMENTE ESCREVE MUITO BEM...
Não é um elogio que costumo fazer, mas você mereceu...
Engraçado, interessante, sincero e muito intrigante...
[ok, já to falando demais..rs]

Agora já coloquei sua página nos favoritos... ai de você se não continuar tão bem..rs

Abraço...

Anônimo disse...

eis que venho comentar mais um texto recém lido do seu sítio na rede mundial de computadores, e me deparo com um comentário postado pela minha consorte (esse jeito de falar te lembra quem? ganha um doce se adivinhar...).
O que você diz é verdade, mas teve um cara chamado Baum que extrapolou: ele disse que a dor, como não pode ser observada ou constatada empiricamente, não existe. já pensou?
abraço.

 
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